‘Prayer to the Yanomami Goddess’ by Sebastião Salgado photograph

EXPOSIÇÃO WORLD UNSEEN

"Prayer to the Yanomami Goddess" por Sebastião Salgado

A subida de Sebastião Salgado ao ponto mais alto do Brasil, no coração da região da Amazónia.

10 mín.
A World Unseen está a melhorar a forma como todos experienciamos a fotografia, quer sejamos cegos, parcialmente cegos ou não tenhamos problemas de visão. Aqui, pode encontrar a incrível fotografia de Sebastião Salgado, tirada no coração da densa Amazónia. Ouça a audiodescrição ou leia-a abaixo.

Ouça a audiodescrição da fotografia de Sebastião

‘Prayer to the Yanomami Goddess’ by Sebastião Salgado photograph

No centro desta fotografia a preto e branco, vemos um homem das coxas para cima, de pé e com os braços levantados, as palmas viradas para a frente. A sua boca está aberta, como se estivesse a cantar ou a declamar. Está sem camisola mas usa um chapéu feito de penas e tem tinta de cor escura na testa e nas bochechas. A tinta desce até ao torso, parando próximo do umbigo. Tem um colar que desce pelo peito.

Atrás do homem, vemos águas rasas a fluir entre pedras e sob ramos frondosos de árvores. Há mais dois homens ao fundo, estando um sentado numa pedra coberta de musgo à esquerda da imagem, a segurar duas lanças longas. O outro está em cima e ao centro, agachado sobre um monte de terra. Há um nevoeiro espesso no ar.

Koparihewë, o xamã na fotografia, dirige-se à grande deusa Yanomami. Pede-lhe que pare a chuva para que possamos subir."

A fotografia "Prayer to the Yanomami Goddess", por Sebastião Salgado, com simulação de deficiência visual por glaucoma precoce
A fotografia "Prayer to the Yanomami Goddess", por Sebastião Salgado, sem simulação de deficiência visual por glaucoma precoce

Deslize para ver uma simulação de glaucoma precoce

Fotografia original

O meu nome é Sebastião Salgado e sou um fotógrafo brasileiro. Esta fotografia foi tirada quando escalei a montanha mais alta do país, o Pico da Neblina, no coração da região da Amazónia. Estamos habituados a ver fotografias da Amazónia como uma planície ampla com rios sinuosos.

No entanto, pouco se sabe da vida nestas montanhas, pois são tão difíceis de aceder. As maiores montanhas do Brasil estão todas aqui na Amazónia, e a densidade da vegetação significa que ainda temos muito a aprender sobre elas. Escalei esta montanha com um grupo de 22 índios, dois dos quais foram grandes xamãs. Um deles está nesta imagem.

A escalada foi difícil e escorregadia. Este pico chama-se "Neblina" porque está envolto em humidade e muita chuva. Montamos o acampamento quando alcançamos uma altitude de 2.100 metros e terminamos a escalada nos 3.107 metros.

Durante a escalada, o xamã que está na fotografia, chamado Koparihewë (um nome que significa "chefe da canção" ou "voz da natureza"), dirige-se à grande deusa Yanomami que vive no alto das montanhas. Esta deusa controla todas as chuvas e tempestades na Amazónia, e ele pede-lhe que pare as chuvas para facilitar a nossa escalada. No fim, conseguimos uma escalada razoável.

Não procuro enviar mensagens através do meu trabalho, pois deixo que fale por si. Mas espero que inspire as pessoas a olhar para as fotografias que tirei nesta região com amor e respeito por esta floresta e os seus habitantes.

A Amazónia é uma das regiões mais protegidas do planeta, juntamente com a Antártica, e temos de proteger este espaço de todas as formas, porque de outra forma será catastrófico, não só para quem vive junto ao rio e às suas florestas, mas para todos nós.

Sobre a fotografia
Sebastião Salgado tirou esta fotografia deslumbrante na região da Amazónia usando a Canon EOS-1D X.

SOBRE A FOTOGRAFIA

Sebastião Salgado tirou esta fotografia deslumbrante na região da Amazónia usando a Canon EOS-1D X.

A Amazónia tem a maior concentração de biodiversidade e água do mundo. Se a destruirmos, ocorreria um retorno de carbono à atmosfera tão grande que levaria ao fim do planeta. Levar-nos-ia do paraíso que a Amazónia representa diretamente para o inferno.

Com esta fotografia e outras que lá tirei, procurei provocar preocupação e respeito para ajudar a proteger este ecossistema.

Para tirar esta fotografia, usei uma câmara que a Canon desenvolveu com a minha ajuda, a EOS-1D X. É para mim a câmara perfeita. É hipersólida, com uma qualidade e robustez incríveis, o que permite usá-la numa grande quantidade de condições de trabalho, incluindo as montanhas inóspitas da Amazónia.

Crio as minhas fotografias a contar histórias. Esta imagem faz parte de uma história que durou quase nove anos. Fiz 58 relatórios e viagens na Amazónia para conseguir uma única história.

A coleção Amazónia que daí resultou tem pouco mais de 200 fotografias. Se multiplicarmos esse número pelo tempo que investi a criar cada uma destas fotografias, que são 1/250 de um segundo, o relatório completo representa apenas um segundo de fotografia. Um segundo que demorou nove anos a concretizar.

Por vezes, as pessoas definem-me como um artista, mas isso não é verdade. Sou um fotógrafo, uma entidade totalmente diferente. A fotografia é uma linguagem universal. As fotografias que tirei da Amazónia podem ser compreendidas na China, em França e no Japão, sem qualquer tradução. É uma forma de comunicação direta e visceral. Para fotografar, é necessário mergulhar fundo, com enorme concentração e densidade, no fenómeno que está a acontecer à nossa frente. Basta uma fotografia para contar a história toda.

Hoje em dia, as imagens tornaram-se uma forma de comunicação, mas não a fotografia. As imagens tiradas com um telemóvel não são fotografia, mas uma linguagem que utilizamos para comunicar.

A verdadeira fotografia tem o poder de transmitir tudo o que vem do legado do fotógrafo, seja estético, cultural, ideológico ou antropológico, e aquele momento em que faz um corte representativo da realidade. É o espelho da sociedade, um quadro representativo do momento histórico em que foi criada. Tem este poder incrível de inspirar e transformar.

Com esta fotografia e outras que tirei na Amazónia, procurei provocar preocupação e respeito para ajudar a proteger este ecossistema.

Tenho agora 80 anos e comecei a fotografar aos 26. O meu trabalho enquanto fotógrafo é o acumular das experiências que tive ao longo da minha vida.

Mas num determinado momento da minha carreira, voltei-me para a ecologia.

Herdei a quinta dos meus pais no vale de Rio Doce, que eu e a minha mulher, Lélia, transformamos num parque nacional com a ideia de reflorestar uma região. Até à data, plantámos mais de 3 milhões de árvores nesta terra, que floresceram novamente e voltaram a criar uma grande floresta.

Devo ter sido o fotógrafo que mais trabalhou na história da fotografia. Mas talvez a coisa mais importante que fiz na minha vida foi fora da fotografia. Foi plantar todas aquelas árvores.

Tive uma vida incrível e a fotografia deu-me muito. Permitiu-me visitar mais de 130 países e testemunhar o planeta que todos partilhamos.

Eu vim da terra, e hoje regresso à terra. A minha vida é uma espécie de círculo que estou a fechar agora.

Saiba mais sobre Sebastião Salgado

IMPRESSÃO WORLD UNSEEN
Para tornar possível a experiência da exposição World Unseen, imprimimos versões em braile e em relevo de imagens icónicas, utilizando o software Canon PRISMAelevate XL e a série de impressoras Arizona.

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