Fotografia "Guerras de rinocerontes" por Brent Stirton

EXPOSIÇÃO WORLD UNSEEN

"GUERRAS DE RINOCERONTES" POR BRENT STIRTON

A devastadora imagem do último rinoceronte-branco do norte macho, do fotojornalista sul-africano Brent Stirton.

10 mín.
A World Unseen está a melhorar a forma como todos experienciamos a fotografia, quer sejamos cegos, parcialmente cegos ou não tenhamos problemas de visão. Aqui, vai encontrar a devastadora imagem do último rinoceronte-branco do norte macho pela fotografia de Brent Stirton. Ouça a descrição de Brent ou leia-a abaixo.

Ouça Brent Stirton descrever a sua fotografia

Fotografia "Guerras de rinocerontes" por Brent Stirton

Um magnífico rinoceronte-branco do norte domina esta cena. De perfil e ao centro da fotografia, a sua colossal cabeça com uma pequena saliência em vez do chifre está inclinada para baixo e para a esquerda. As suas patas frontais encontram-se na relva ressequida da savana queniana. À direita, um homem com uniforme militar encontra-se agachado. O homem segura no cano de uma espingarda de assalto preto mate com a sua mão esquerda. Com a mão direita, o homem coça a barriga do rinoceronte entre as pernas dianteiras.

Estão de pé dois outros homens de uniforme, um à esquerda e outro à direita, cada um com a sua espingarda e a olhar para longe. Acima deles, o céu está azul e limpo, com toques de nuvens brancas.

A cena demonstra uma savana sarapintada, com tonalidades douradas a criar um brilho quente e etéreo. O rinoceronte é um símbolo de graça e resiliência primitivas. A sua forma maciça, com uma pele tipo armadura, emana uma aura de dignidade inabalável. Os olhos são piscinas de escuridão profunda num semblante coriáceo, refletindo a incansável marcha do tempo.

Os guardas rodeiam-no, formando um escudo humano contra caçadores e uma metáfora para o melhor tipo de intervenção humana em relação à natureza."

Fotografia "Guerras de rinocerontes" por Brent Stirton com simulação de retinopatia diabética moderada
Fotografia "Guerras de rinocerontes" por Brent Stirton, sem deficiência visual

Deslize para ver uma simulação de retinopatia diabética moderada

Fotografia original

Chama-se Sudan, um animal suficientemente épico para ter o nome de um país, sendo também o último rinoceronte-branco do norte macho no mundo. Os homens que o rodeiam são guardas-florestais, heróis desconhecidos da savana, que o protegem.

À volta do rinoceronte, os guardas formam um escudo humano contra os caçadores furtivos, sendo também uma metáfora para o melhor tipo de intervenção humana na natureza. Os uniformes estão perfeitamente camuflados no manto da savana, demonstrando a sua determinação tranquila.

A presença dos homens não é de domínio, mas de proteção, um compromisso palpável que reconhece o rinoceronte-branco do norte como o mais frágil emblema da biodiversidade decrescente do planeta, na sua hora final.

No centro da selva africana, os limites entre homem e natureza representam muitas vezes uma coexistência atribulada, mas esta fotografia conta uma história diferente: uma história de devoção, determinação, e a fragilidade das criaturas mais majestosas do nosso planeta. Representa um conto fascinante de resiliência, esperança e tragédia.

Nenhum destes homens tem um curso universitário, não são cientistas, a palavra professor não aparece diante de nenhum dos seus nomes. Porém, o tempo passado com o Sudan tornou-os especialistas no animal. De facto, o tempo aproximou-os. O facto de saberem que o rinoceronte-branco do norte está potencialmente condenado acrescenta ainda mais gravidade aos seus papéis enquanto protetores. Há pungência na sua dedicação em proteger o último exemplo de algo tão magnífico.

O rinoceronte é uma criatura antiga cuja linhagem evolutiva se estende ao longo do tempo, transportando em si o reservatório genético de séculos passados. Sendo o último da sua espécie, é um testemunho vivo de épocas longínquas, um símbolo do dano profundo que a apatia humana inflige no mundo natural. Quando vemos o guarda a coçar gentilmente a cabeça deste gigante, vemos a compreensão e o respeito que poderia ter havido.

Nos bastidores da fotografia
Brent Stirton tirou esta poderosa fotografia de Sudan enquanto estava em Ol Pejeta Conservancy, no Quénia, utilizando a Canon EOS 5D Mark II.

Com os guardas em vigília silenciosa, há uma reverência, a relação entre estes homens e este animal, um reconhecimento da ligação profunda que é possível entre humanos e o mundo natural. A postura do guarda declara a obrigação moral da humanidade em salvaguardar a fragilidade da vida neste planeta.

Ao mesmo tempo, a crença infundada da humanidade nos poderes curativos do corno de rinoceronte colocou estas criaturas na iminência do esquecimento. Quão ignorantes e egoístas conseguem ser os humanos quando está em risco o legado que deixamos para as gerações futuras.

O apelo emocional da fotografia é aumentado pela ilusão da inexistência de tempo transmitida pela fotografia, um momento congelado para a eternidade. Porém, o tempo da criatura representada terminou, uma vida no final de tantas outras ocorridas enquanto os rinocerontes-brancos do norte vagueavam pela terra. O Sudan é o último macho. E quando ele caminhar na direção da luz, o que restará será esta e tantas outras fotografias que o guardam na nossa memória.

É uma situação que ocorre desde sempre, à medida que as espécies surgem e desvanecem, em que o planeta é testemunha da implacável marcha de uma evolução por vezes imperfeita.

Quão ignorantes e egoístas conseguem ser as pessoas, enquanto o legado que deixamos para as gerações futuras fica em suspenso."

Talvez o poder desta criatura seja a sua capacidade de provocar contemplação e introspeção. É um testemunho à beleza frágil do mundo natural e ao nosso dever moral em o salvaguardar. É um convite a refletir sobre a interação profunda entre a humanidade e a natureza, e as escolhas que fazemos enquanto protetores deste planeta frágil.

No seu silêncio eloquente, implora-nos a ultrapassar os nossos instintos mais básicos e a aceitar o manto da responsabilidade exigida pela a nossa existência partilhada. Exige-nos uma interação com as complexidades da conservação, não como observadores passivos, mas como participantes ativos numa luta global pela preservação. Pedimos a estes homens africanos que protegessem a nossa herança global, mas o que oferecemos de nós próprios neste processo?

O Sudan foi eutanasiado a 19 de março de 2018. Este exemplo mais velho da sua espécie sucumbiu a alterações degenerativas nos seus músculos e ossos e, eventualmente, já não se podia levantar. Foi abatido pelos veterinários dedicados de Ol Pejeta Conservancy no Quénia para aliviar o seu sofrimento.

Durante muita da sua vida, esteve rodeado de pessoas que cuidaram muito dele. Em retribuição, era gentil e cuidadoso com essas pessoas. Se o Sudan tivesse alguma esperança, certamente seria que a humanidade o recordasse como um símbolo dos nossos melhores anjos, e o que é possível entre homem e animal se nos considerarmos como iguais neste planeta frágil.

Atualmente, há um programa que explora a possibilidade de restaurar a subespécie com amostras de esperma e de óvulos, existindo já 29 embriões de rinocerontes-brancos do norte. Se for uma forma de reverter os acontecimentos, pode fazer toda a diferença, mas não podemos deixar que os desenvolvimentos científicos nos façam descansar relativamente a tudo o que ainda existe na natureza. A natureza merece o nosso apoio e a nossa proteção. E em retribuição, ela cuidará de nós.

Saiba mais sobre o embaixador da Canon, Brent Stirton

Veja a World Unseen – Episódio Um: Brent Stirton e Lawrence Gunther

IMPRESSÃO WORLD UNSEEN
Para tornar possível a experiência da exposição World Unseen, imprimimos versões em braile e em relevo de imagens icónicas, utilizando o software Canon PRISMAelevate XL e a série de impressoras Arizona.

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